Coordenação: Patrícia Barros Soares Batista e Bruna D’Carlo Rodrigues de Oliveira Ribeiro

 

Sobre o Projeto

Buscar “escovar a história a contrapelo”, isto é, escrever a história recusando a tradição de um único ponto de vista, que conforma uma história única (ADICHIE,2019), é de fundamental importância para fortalecer a história e as culturas dos povos africanos e afrodiaspóricos, fazendo ecoar as potencialidades oriundas dos diversos campos de saberes ancestrais. Incluir tal perspectiva nas práticas educativas é necessário, pois aviva-se uma educação em prol da equidade racial, contribuindo para a transformação e superação das desigualdades étnico-raciais historicamente arraigadas na estrutura social de nosso país.

Neste sentido, este projeto de pesquisa tem como objetivo geral investigar os saberes relativos à história e à cultura afro-brasileira e africana produzidos e divulgados no currículo do ciclo da alfabetização do Centro Pedagógico da UFMG. Nessa instituição, desde o ano de 2015, realiza-se o projeto de ensino “Áfricas e Eu”, uma ação educativa que busca estabelecer um diálogo interdisciplinar para incluir o ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo. Os saberes relativos a essa temática, mesmo após um importante marco na educação nacional há duas décadas – a promulgação da Lei 10693/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornando obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas do território brasileiro – ainda encontram grandes desafios para serem implementados no currículo escolar. Esses desafios precisam ser superados para que seja possível assegurar uma educação efetivamente antirracista, que amplie o olhar e a compreensão sobre a negritude e sua centralidade na formação histórica e cultural da sociedade brasileira.

Em uma perspectiva decolonial, o presente projeto de pesquisa pretende analisar o currículo do CP, aqui entendido como “um território em constante disputa” (ARROYO, 2011), bem como, as ações do referido projeto de ensino que buscam trazer os saberes historicamente subalternizados para esse currículo, visando investigar as possibilidades de decolonização dos saberes, dos poderes e do si potencializadas. Dessa forma, pretende-se refletir sobre:

– Como saberes e conhecimentos relativos à história e à cultura afro-brasileira e africana são abordados no currículo do ciclo da alfabetização?
– O modo como esses saberes são abordados no currículo permite a desestabilização das relações de poder existentes?
– Como as práticas curriculares desenvolvidas contribuem para a desconstrução (ou reforço) de representações preconceituosas em torno das identidades negras?
– Como as culturas africanas e afro-brasileiras estão presentes (ou invisibilizadas) nessas práticas curriculares?
– Qual papel as formas simbólicas como a literatura, por exemplo, exercem na formação identitária dos grupos sociais e quais são as categorias temáticas que emergem das experiências literárias no ambiente escolar?
– Quais são os conhecimentos e estratégias mobilizados pelos/as educadores/as para o enfrentamento do racismo no discurso pedagógico cotidiano?
– De que forma esses saberes atuam para a decolonização de si, por meio da problematização de identidades hegemônicas e dos privilégios que envolvem a branquitude?

Como metodologia, serão utilizados elementos da etnografia educacional, como observação participante e registro em diário de campo; entrevistas com docentes e estudantes; análise documental dos materiais curriculares disponíveis na escola e dos materiais produzidos em sala de aula. Por meio das análises realizadas, esperamos trazer à luz algumas possibilidades reais de práticas escolares que contribuam, de modo significativo, para garantir uma educação antirracista.

 

Divulgação em eventos acadêmicos e científicos:

 

  • 1º Simpósio de Pesquisa do Centro Pedagógico da EBAP/UFMG: Balanços e Perspectivas (2019)
    Trabalho apresentado: O ensino de história e cultura africana e afro-brasileira: diálogos e silêncios entre a lei 10.639 e a prática docente nos anos iniciais do ensino fundamental

 

  • 1º Congresso Internacional de Literatura para crianças e Jovens – PUC/SP (2021)
    Trabalho apresentado: LiterÁfricas: a valorização da diversidade étnico-racial nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Disponível em: https://youtu.be/nW8UVoIhc6M

 

 

 

  • II Simpósio de Pesquisa no Centro Pedagógico: Estudos e vertentes (2022)

Trabalhos apresentados:
– Educação das relações étnico-raciais no processo de alfabetização
– Literáfricas: a valorização da diversidade étnico-racial por meio de obras literárias para a infância

 

Artigos completos:

EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PROJETO DE ENSINO “ÁFRICAS E EU”
In: Estudos em Educação: Inclusão, Docência e Tecnologias. 1ed. Formiga: Uniesmero, 2022, v. 8, p. 185-196.
https://www.uniesmero.com.br/2022/03/estudos-em-educacao-inclusao-docencia-8.html

 

Equipe:

Patrícia Barros Soares Batista – CP/ UFMG
Bruna D’Carlo Rodrigues de Oliveira Ribeiro – CP/UFMG
Maria Carolina da Silva Caldeira – CP/UFMG
Ruana Priscila da Silva Brito – CP/UFMG
Maria Beatriz de Freitas Vasconcelos – CP/UFMG
Giovanna Paula de Freitas – FAFICH/UFMG (IC voluntária)

 

Referências
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
ARROYO, Miguel G. Currículo, território em disputa. 2ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.